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segunda-feira, 29 de julho de 2013

DOIS SONETOS DE WALDEMAR LOPES (1911-2006)

 
WALDEMAR Freire LOPES (S. Benedito do Sul-PE, 1911 – Recife-PE, 21 de Outubro de 2006) foi um poeta brasileiro. Inicialmente jornalista, ocupou cargos de relevo na administração pública e dirigiu o Escritório da Organização dos Estados Americanos no Brasil. Manuel Bandeira o incluiu, com altos elogios à sua poesia, então quase inteiramente inédita, na 2.ª ed. de sua Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, 1965. Os dois sonetos abaixo transcritos pertencem ao volume intitulado Sonetos do Tempo Perdido, 1970, que foi agraciado com o Prêmio PEN Clube do Brasil de 1971. Pessoalmente considero como um dos maiores sonetistas do Brasil, pela capacidade de agudeza de conteúdo aliado ao requinte da forma poética impecável, além da posse da língua, absolutamente completa e luminosa.
 
SONETO DA ESPERANÇA
 
Tempo de azul e não. Desencantado
reino do que não foi, mundo postiço,
ontem feito de agora, hoje passado:
na essência do não-ser o instante omisso.
 
(Margaridas da tarde, onde o seu viço?
Choro de água nos ares, lento e alado
caminho cor de sonhos? Insubmisso
mar sem datas, desfeito e recriado?)
 
Suaves rechãs por onde a mão do vento
esculpia no verde a sombra exata
e as imagens que o olhar já não alcança.
 
Aventuras tão-só do pensamento:
arco de azul, a tarde era a fragata
supérflua, para o exílio da esperança.)
 
SONETO DAS NUVENS E DA BRISA
 
Os pássaros nostálgicos... Errantes
mágicos do crepúsculo, soprando
das longas asas trêmulas o brando
vento da tarde; e logo, em céus cambiantes,
 
alvos blocos de pluma vão distantes
e efêmeras imagens modelando:
sereias e hipocampos, entre o bando
de carneiros, e rosas, e elefantes,
 
cães e estrelas, dragões, ou aguçadas
torres, na superfície roseoviva
por onde voga, acesa, a caravela
 
e as longas asas captam, retesadas,
a poesia da tarde, fugitiva,
mas eterna no instante em que foi bela.
 
In: LOPES, Waldemar Freire. Memória do Tempo. Rio de Janeiro: Padrão Livraria Editora, 1981. (Pg. 37 e 38).