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segunda-feira, 23 de junho de 2014

O SONETO TEMPORÃO DE MAURO MOTA


Talvez composto em época após a publicação do livro Elegias (1952), Mauro Mota mantém na Elegia Nº 11 a unidade rítmica e o tom característico dos poemas constantes na referida obra, volume esse que o projetou nacionalmente e o fez conquistar o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela ABL. Segundo César Leal, a obra foi escrita no clima do luto pela perda da primeira esposa do escritor. O soneto temporão transcrito abaixo sugere talvez essa despedida amorosa, metaforicamente fluente e etérea, mas definitiva nos espectros de imagens que tanto perduram no livro.
Mauro Mota (1911-1984), poeta pernambucano, é um poeta que, numa quase surdina de invisibilidade, enriquece a cultura nordestina e nos torna mais ricos de espírito.

ELEGIA Nº 11


Suave e leve, o que se vai embora
com a leveza e a suavidade de uma
frágil, solta no ar, bolha de espuma,
brisa da madrugada, espaço afora.


Imagem branca, sombra, réstia, pluma,
o que a origem se devolve agora?
Para a região sem noite e sem aurora
parte? Talvez para região nenhuma.


O que se vai embora? O cristalino
eco da última voz muda e distante?
A música liberta do violino?


Na região de Deus, mal pousas um instante
que alumiar todo o céu é o teu destino,
alma feita de luz no céu, flutuante.