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sábado, 30 de junho de 2012

ABGAR RENAULT E A POÉTICA PESSIMISTA




O poeta mineiro Abgar Renault (1901-1995) é hoje tido como um poeta pouco conhecido do grande publico leitor, assim como para os leitores mais especializados. Mais conhecido pelas suas facetas (igualmente relevantes) no campo da educação e da política do que na poesia, Abgar Renault desenvolveu uma escrita que não se confunde com a dos seus contemporâneos. A obra produzida não se caracteriza como ao de um poeta menor, ao contrário, percebe-se no poeta um alto nível de cosmovisão contida na observação do mundo mais vasta e mais organizada que a média dos nossos poetas.

         Talvez a falta de ambição maior no território literário o reduza como um desconhecido por completo no cenário literário nacional. Mas vale ressaltar, porém, que com a calma e paciência, e, sobretudo, a falta de pressa em publicações, Abgar Renault desenvolveu uma poesia dotada de carga imagética e condensação filosófica, justificando a reivindicação de presença tanto em âmbito acadêmico quanto nos manuais de literatura. Uma urgência é destinada aos editores: a reedição de uma antologia ou da Obra Poética do autor, publicada em 1990, já se faz mais do que necessária. Na confrontação de características em que se desenvolve, evidencia-se no poeta certo teor pessimista e desconcerto sobre as demandas temporais e existenciais do ser humano.

 Gênese geracional de Abgar Renault

       A geração de Abgar Renault é a mesma de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Murilo Mendes (1901-1975), dois pilares da poesia moderna e de todos os tempos, e de valores incontornáveis à nossa literatura. Outros autores da geração mineira são relevantes ao período: o poeta Emílio Moura (1901-1971), o memorialista Pedro Nava (1903-1984), os ficcionistas Aníbal Machado (1894-1964) e Ciro dos Anjos (1906-1994), o contista João Alphonsus (1901-1944) e políticos também, tais como Gustavo Capanema (1900-1985) e Pedro Aleixo (1901-1975). Abgar Renault se situa entre essas duas esferas, a política e a literária, uma vez que se elegeu deputado estadual na década de 1930 e nunca mais se afastou da vida pública, ocupando cargos diretivos no ramo da educação do seu estado natal, e a posteriori no contexto nacional e internacional, chegando a ocupar o Ministério da Educação (1956) e cargos na UNESCO por vários anos.

       Isso explica talvez o seu aparecimento restrito na vida e/ou carreira literária brasileira do século XX. Assim, inclui-se na geração tardia (ou dispersa) do Modernismo brasileiro, da qual podemos incluir Dante Milano, Sosígenes Costa e Joaquim Cardozo. Sem dúvida, Abgar possuía um comportamento um tanto refratário com relação à edição de possíveis livros seus, embora tenha aderido ao movimento desde a primeira hora. Se Abgar não teve uma participação literária editorial nem de vida literária, contudo, ele não prescindiu do trabalho estético, sobre o qual atravessou sete décadas de notável produção intelectual e literária. Dotado de sólida formação humanística, foi tradutor, filólogo, teórico da educação, professor e ensaísta. Na poesia, de nítida conotação surrealista, produziu com raro conhecimento estilístico, desde os exercícios concretistas, atravessando o verso livre em todas as suas possibilidades, além de ter experimentando a versificação isométrica e formatos mais tradicionais, como por exemplo, o soneto e a balada.

        Apesar de um profundo pessimismo e desencanto pela vida, o que levou à perspectiva filosófico-antropológica de negação da transcendência, contrastada por uma vida materialmente e intelectualmente bem sucedida, Abgar Renault, em sua poesia, pouco conhecida pelo meio acadêmico, atinge um nível literário comparável aos nossos melhores poetas do modernismo brasileiro.

         O entrave dessa falta de conhecimento deve-se, talvez à tardia iniciação editorial de sua carreira literária, iniciada apenas aos 68 anos. 

        Qual terá sido o motivo? (...)